O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou, nesta quarta-feira (18), a taxa básica de juros (Selic) de 14,75% para 15% ao ano. A decisão representa a continuidade do ciclo de alta iniciado em 2024 e leva a Selic ao maior patamar desde julho de 2006, quando chegou a 15,25% durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo o comunicado oficial divulgado após a reunião, a medida visa conter a inflação persistente e levar em consideração as incertezas do cenário fiscal e internacional. Apesar disso, o Banco Central sinalizou uma possível pausa nos próximos ajustes para avaliar os impactos das elevações anteriores.
A reunião contou com a participação dos diretores da autarquia, incluindo o presidente do BC, Gabriel Galípolo.
A nova alta foi alvo de críticas por parte de economistas e representantes do setor produtivo, que alertam para os efeitos negativos da medida sobre a economia real. Para Ana Georgina Dias, economista e supervisora técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na Bahia, o aumento da Selic tem sido conduzido como uma “medicação aplicada em dose excessiva”.
“A taxa de juros elevada até pode ajudar a controlar a inflação, mas quando essa inflação não vem da demanda, o resultado é a paralisação da economia. É como exagerar na dose de um remédio e comprometer a recuperação do paciente”, afirmou.
De acordo com a economista, os juros altos encarecem o crédito, reduzem o consumo das famílias e inibem os investimentos no setor produtivo, provocando estagnação e aprofundando desigualdades sociais.
“Empresários deixam de investir, adiam contratações ou reduzem operações. As famílias sentem o impacto no bolso, com crédito mais caro e menos acessível. Tudo isso trava o crescimento econômico”, destacou Ana Georgina.
A especialista também criticou o que classificou como uma “preferência estrutural” do Banco Central pelos interesses do sistema financeiro, em detrimento da economia real.
“Quando a taxa de juros se mantém elevada por tanto tempo, ela passa a beneficiar o rentismo, em vez de fomentar o desenvolvimento. Pequenos empreendedores, indústrias e trabalhadores acabam penalizados por uma política que concentra renda e paralisa o país”, concluiu.
Com a nova elevação, o Brasil mantém-se entre os países com os juros reais mais altos do mundo, o que amplia o debate sobre o papel do Banco Central na condução da política monetária e seus impactos sociais e econômicos.